Aborto

Que saiamos dos pré-conceitos

Muito se ouve ou vê falar de aborto. Muito, também, se ouve ou vê falar do assunto apenas através da emoção. É sensacionalismo comentar esse tipo de tema atentando apenas para o fato de ser a uma vida de um ser humano que se põe fim.

Aborto, em sua total abrangência, é um fato que precisa de mais racionalização. É um fato que está intrinsecamente ligado à vida da mulher e às possibilidades de vida digna da criança. A questão do aborto é relevante para a saúde pública, para as condições de vida dos bebês e, consequentemente, para a sociedade, mesmo que indiretamente.

Um feto só desenvolve seu córtex cerebral (responsável pelas sensações e pela consciência) a partir da décima oitava semana de gestação. Portanto, não é prudente argumentar contra a ação abortiva por meio desse fato (dor, consciência, etc.). Não dá para falar do assunto por via religiosa. Essa cria impasses metafísicos que nunca irão ser resolvidos praticamente. Também não dá para vetar a prática do aborto para bebês que nascerão com doenças degenerativas ou crônicas, que comprometam uma vida satisfatória para ele e para os que dele cuidarão.

É crueldade deixar uma criança viver sob uma existência degradante apenas por pré-conceitos. O aborto é uma responsabilidade de cunho social. Conservadorismo e posturas arcaicas só aumentarão a execução dessa prática de forma clandestina, e, portanto, pior.

Em suma, defendo o aborto por esses motivos: quando a decisão e, consequentemente, a ação ocorrer enquanto o feto não possua a sua consciência totalmente desenvolvida (até a décima oitava semana, mais ou menos); e quando for sabido que o bebê irá nascer com doenças extremamente danosas e que causem sofrimentos insuportáveis, não importando o tempo em que ocorra a ação.

Comentários

  1. Na verdade, como somos apenas carbono e água, tanto faz matar antes da décima oitava semana, como a qualquer momento, não achas, principalmente os doentes e deficientes?

    Quando você diz que não dá prá falar por via religiosa, já formou um pré-conceito próprio do que seja religião.

    O feto não é um apêndice da "vida" da mulher.

    Você diz que "a questão do aborto é relevante para a saúde pública". Que Saúde Pública? A do Brasil? Não me faça rir.

    Já imaginou se o médico, na época, fosse capaz de prever a doença altamente degenerativa de Stephen Hawking e tivesse aconselhado sua mãe a abortá-lo?

    O que é vida? o que é normalidade? O que é saúde? O que é doença? Quem realmente é saudável? A turma da síndrome de down, esta semana deu um show na ONU.

    Você já viu os depoimentos de amor e felicidade de toda a família de Marcela, a anencéfala? tá no Youtube, e por aí vai. É uma questão muito ampla, que não pode ser reduzida a poucas e restritas variáveis.

    Um grande abraço, amigo.

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  2. Oi, França!

    Quando falei de "vias religiosas" explicitei logo adiante, pois a religião impõe obstáculos metafísicos que não são solucionados na prática, inviabilizando, assim, um progresso de uma possível decisão.

    Quanto à saúde pública, não interessa se ela é ruim ou boa, o que importa é que devemos fazer algo para que melhore. Por exemplo, se a grande parte dos brasileiros são corruptos, isso não implica dizer que devo, também, ser corrupto.

    Quanto a Hawking e às pessoas com síndrome de Down, não se encaixam nos critérios de extremo sofrimento que estipulei no texto. Assista ao filme "Mar adentro" (referente à doença de Hawking).

    A família de Marcela, a anencéfala, pode ser feliz e ter amor incondicional por ela, mas o que significa a "vida" dessa criança, para ela própria? A família ser feliz não é critério de defesa para ter deixado o bebê nascer. Pois, levando em consideração o que falei no texto, se a família fosse feliz e tivesse amor, mas a criança sofresse absurdamente, não creio que seja uma atitude sábia deixá-la viver. Portanto, o amor familiar, nesse caso, não faz parte da defesa da "vida".

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    1. Esse é daqueles temas que um espaço deste não possibilita uma discussão a contento, primeiro porque eu não sei escrever legal, depois porque a letra mata. Mas, o bom mesmo dessa história é o fato de nossas mães não nos ter abortado, e agora termos a felicidade de conversarmos, pelo blog, e principalmente pessoalmente. Um grande abraço!

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    2. É verdade. O espaço é pequeno e o tema grande demais para se dar conta em um blog. E deixe de falsa modéstia, você escreve muito bem!

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