E
a psiquê?
Como pensar introspectivamente?
Uma vez que penso sobre aquilo que acho que sou eu, já não sou eu mesmo. O
pensar é algo fugidio. Escapa de mim em direção às coisas, ao mundo. Todo
pensar é adicionado de novos fatos, de novas experiências. Um pensar nunca é
igual ao anterior e nem será igual ao posterior. É sempre enriquecido.
Não somos definidos tal qual uma
coisa inanimada, autossuficiente de si, tal como ela é mesma. Somos sempre
movimento, mudança, continuidade. Não nos compreendemos porque não somos coisa.
Somos, antes de tudo, maleabilidade, mutabilidade, liberdade.
Difícil pensar sobre a psiquê. Se
pensarmos como coisa, atribuímo-la a condição de autossuficiência e, portanto,
encontraremos algo que não é nós mesmos. Se mecanizarmos sua ação, a tratamos
como máquina de causas e efeitos. Se lhe dermos um inconsciente, seremos apenas
passivos de uma “estrutura manipuladora”.
Não nos distanciamos de nós
mesmos. Estamos sempre acompanhados de um Eu que se projeta. Sempre estamos
voltados ao mundo de fora, já que o de dentro não existe. Como afirma
Merleau-Ponty (2011, p. 249), “O pensamento não é nada de ‘interior’, ele não
existe fora do mundo e fora das palavras.”* O que há neste pretenso interior são
ações e impressões deixadas na memória por nossa vivência e que atribuímo-las
cegamente a condição de ser um Eu puro.
Não se conhece a si próprio
pensando sua suposta interioridade. Tornamo-nos o que queremos ser a cada
instante, a cada ação, a cada pensamento. Sempre podemos nos transformar, agir
de outra forma. Isso porque não estamos no mundo de forma mecanizada. Mudamos o
mundo e a nós mesmos sem muito esforço.
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* Fenomenologia da Percepção.
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* Fenomenologia da Percepção.
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