Eu puro
"O mundo existirá mesmo após
minha morte." Será que eu, enquanto ser vivente no mundo concreto, posso
afirmar essa proposição? Seria demasiado presunçoso tal feitio. Para que esta
afirmação fosse efetivada, seria preciso que minha consciência perdurasse mesmo
depois de minha morte corporal.
Minha existência real, tal qual
vivo agora, não me permite efetuar a asserção do início deste texto. Para isto,
eu teria de estar na condição de morto carnal e vivo em consciência pura. Isto é, a constatação do fato da
existência do mundo apesar de minha morte tem de ser uma evidência atual a esta
situação que eu deveria me encontrar, ou seja, vivo apenas enquanto um Ser puro.
A morte do outro não me permite a
afirmação em questão. Mesmo após o outro morrer e eu constatar que o mundo
continua para mim, não faz com que eu elabore a assertiva que o mundo continuará
existindo após eu esvaecer-me. Por quê? O mundo só existe para mim enquanto sou/estou
nele. Depois que eu não mais ser/estiver, nada posso afirmar ou pensar. Só
conheço, constato e descrevo o mundo porque este é correlativo comigo: é nele
que sou.
Mesmo que eu creia, agora, que
ele continuará existindo para outrem, não posso ter tal certeza. Creio porque
experiencio isso vendo o outro morrer e o mundo ainda existir para mim.
Todavia, uma vez que eu não mais seja nada, tudo perde o sentido, tendo em
vista que o sentido é proveniente da correlação entre mim e o mundo.
Só um Eu puro, anterior e
independente da existência mundana, poderia afirmar a continuação do mundo além
de minha concretude. E, para isso, esta consciência pura teria de afirmar tal
fato já tendo ou estando experienciando esta situação: uma elaboração subjetiva
é correlativa ao vivido. Só posso afirmar aquilo que, de alguma forma, tenho a
mim mesmo como ponto de vista.
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