Ressignificar
Deitado, olhando os livros em
minha estante, dei-me conta, mais uma vez, do quão, dentre a multiplicidade de
pensamentos, somos marcados pela inconstância.
Livros fechados que, se abertos,
transcendem pigmentos de tinta impressos em celulose. Pensamentos expressos em
forma de letras para dar vazão a ideias, ideais ou simplesmente ressignificando
este mundo completo e, ao mesmo tempo, carente de significado enquanto o existe
para nós.
Música, aparelho de som... Arte
gravada que se executa indiretamente a fim de balancear nosso espírito. Roupas, sapatos... Tantas
carências! Isso é a marca de nossa incompletude, de nosso movimento contínuo
que nunca cessa nem se completa.
Quando não é a arte, quando não é
a literatura que nos promovem em direção aos significados, é a tecnologia que
nos robotiza cada vez mais. As duas primeiras são apenas escapes às nossas
angústias.
Estão querendo furtar de nós, me
parece, este inacabamento que nos é próprio. Estão nos substituindo pelas
máquinas incapazes de afecção com o mundo e com as coisas.
E quando o mundo não puder mais
ser ressignificado? O que tornar-se-ão estes livros, estas roupas, estes
sapatos? Enfim, o que tornar-se-á a vida? Afinal, o que é viver? Será apenas mais
um significado igual a tantos que encontro nestes livros de minha estante?
Os livros são parte daqueles que
os escreveram, mas não são os próprios indivíduos. São apenas uma fatia de sua
existência ou, pelo menos, uma pretensa vivência.
Enfim, estes livros que estão
aqui, na minha frente, não fazem parte do mundo enquanto coisa. Eles são parte
de nós. São uma forma de vivido daqueles que produziram. Fazem parte de nosso
direcionamento a esta concretude mundana.
Livros, arte, tecnologia: tudo
existe por extensão de nossa existência. Mera tentativa de entender e dar
sentido à rigidez do mundo e à nossa maleabilidade.
Comentários
Postar um comentário