O Perfeito

Perfeição

Tudo o que é perfeito é belo: eis o pensamento da maioria. Mas, o que é a perfeição? Não podemos cogitá-la senão por uma espécie de abstração confusa e muito imprecisa. Não podemos pensá-la por não possuirmos um exemplo padrão do que seja perfeito.

Para que pensássemos este, seria necessário, de antemão, que o conhecêssemos. Ora, não sabemos o que é perfeito; não temos contato com a perfeição. Imaginamo-la, mesmo que precariamente, por uma espécie de teleologia da consciência, ou seja, estamos sempre inclinados ao porvir, àquilo que faremos de nós mesmos e do mundo. E, para isso, procuramos meios e ações que nos deem um embasamento seguro, ou seja, algo pretensamente universal.

Pensar a perfeição é uma tendência de finalidade. Buscamos um exemplo universalizante, que seja bom, justo e correto. Porém, tais características são de cunho psíquico. Não podemos alcançá-las pelo fato de sermos abertura ao mundo e a outrem o tempo todo. Pensá-las, é uma atividade que nunca se completa, já que não temos um norte para nos guiar a um fim objetivo e único.

A perfeição é impensada, inacessível e inefável. Não conseguimos, por um movimento de pensamento, elaborar uma ideia do Perfeito. Por quê? Talvez pelo fato de sermos sempre inacabados. Vivemos num mundo no qual produzimos a nós mesmos e a ele e buscamos sempre um fim, mesmo que temporário, efêmero e contingente.

Em nenhum momento de nossa existência experimentamos uma situação pura em si mesma. Todas as situações são “contaminadas” por nós — por essa atividade que nos é inerente —, seja atribuindo-lhes um sentido, seja vivenciando-as de formas particulares.

Enfim, minha relação com o mundo é sempre uma relação recíproca, na qual o conceito de “perfeito” não possui lugar nem a quê se imprimir. O perfeito seria tão amplo que não conseguiríamos abarcá-lo.

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