Dialética
Tudo o que eu escrevo são folhas secas jogadas ao vento,
Tudo o que eu escrevo são folhas secas jogadas ao vento,
Que de prático pouco se usa,
Que de nada muito se tem.
Ainda assim, insisto.
Ainda assim, mantenho-me fiel.
Se meus pensamentos são palavras,
É porque a vida é uma dialética,
Que, de reviravolta em
reviravolta,
Sou cada vez mais eu,
Sou cada vez mais eu,
Mesmo um eu sem muros delineados,
E, em paradoxo, sou cada vez
menos coisa.
Escrevo por necessidade,
Escrevo por necessidade,
Para externalizar-me,
Para crivar-me no mundo.
Afinal, escrever é relacionar-se
com outrem,
É compartilhar nossa vivência,
nossa existência,
É dar continuidade ao movimento
incessante da vida.
Quem lê meus textos mantém uma relação comigo,
Quem lê meus textos mantém uma relação comigo,
Mesmo uma relação que não saibamos
qual seja, nem qualificar.
É como o diálogo entre amigos:
A amizade é só um fundo com o
qual mantemos a proximidade,
Mas o diálogo, por si só, não
conseguimos conceituar.
É uma relação.
Assim, vou escrevendo,
Relacionando-me comigo e com você.
Com isso, vou vivendo.
Com isso, vou vivendo.
Enquanto a morte não chega,
A vida não para.
Sou este movimento,
Afeto o mundo e sou afetado por este.
Afeto o mundo e sou afetado por este.
E, ao terminar de ler, você
percebeu que esteve entranhado,
Não nas entranhas físicas,
Mas nas estranhas duma relação
que manteve com meu texto,
Pensando comigo,
Por um momento, conjugamos uma
vivência em comum.
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