Comunicação e vivência
A linguagem é para nós aquilo que
o combustível é para o automóvel. É pelas significações convencionadas que
conhecemos e nos relacionamos com o mundo. Mesmo se criássemos uma língua
particular, restrita, seria por ela que sairíamos do marasmo da sobrevivência e
partiríamos para a atividade da vivência.
Sobreviver e viver são distintos.
O primeiro é instintivo. O segundo é intencional. Quem vive, sempre sobrevive; mas
quem sobrevive, nem sempre vive. Falamos aqui de um fator existencial
(vivência), e não do mero existir (sobreviver).
Vivemos no mundo de forma a nos
relacionarmos com este e com outrem. Tal relação não se dá tão somente no campo
do instinto. Mantemos uma afetividade e um desbravamento constante com tudo o
que nos circunda e que nos afeta de alguma forma.
Comunicamo-nos com o mundo. Esta
comunicação é que nos mantém sempre numa posição de exteriorização e de
internalização, isto é, exteriorizamo-nos em direção às coisas e trazemos
destas um conhecimento adquirido e/ou uma afecção específica. Comunicar aqui
significa relacionar-se.
É pela linguagem, então, que
conhecemos, que somos afetados e até que nos resguardamos em relação a certas
coisas que achamos demasiado problemáticas. Colocamos nas coisas aquilo que
para nós está preestabelecido através de signos — nossos pensamentos são todos
possíveis por intermédio duma linguagem. Sem esta, não haveria
intencionalidade; não haveria humanidade; a atividade humana se retrocederia apenas
à sobrevivência animalesca.
Comunicar com o mundo, portanto, só
por meio dos signos, mesmo que seja uma comunicação inexprimida. Um ser também de
dimensão subjetiva carrega consigo o arcabouço linguístico para tornar seus
atos coerentes com suas vontades. Só temos vontades porque sabemos o que
queremos, e querer requer organização do pensamento mediante um conjunto de
convenções linguísticas.
Todavia, nossa linguagem se dá
por consequência de nossas experiências. Só lidamos com o mundo e com outrem
porque os signos e as coisas são interdependentes. Nossa linguagem não tem uma
existência pura, em separada da realidade na qual existimos. Há sempre esta
mutualidade entre falante e falado. Somos relação contínua, e a língua
é esta ponte de acesso entre meu ser pré-objetivo e o mundo.
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