Mente

Um pouco além da biologia evolutiva


É, ainda, um mistério para a ciência o tratamento dado à nossa consciência. Esta, entendida como uma propriedade cerebral, assim como a liquidez é uma propriedade da água, para falar nos termos de John Searle (2006)*.

A dificuldade de encontrar a definição correta e os motivos causais para a consciência está no fato de ela não ser palpável, verificável. Além disso, é uma propriedade de primeira, e, não, de terceira pessoa. O que significa isto? Significa que os estados conscientes de alguém só são acessíveis a ele próprio. Eu, por exemplo, não posso acessar sua experiência pessoal de estar lendo este texto nem sua experiência perceptiva de ver seu computador ou smartphone.

Mas, por que a consciência é tão importante? A experiência consciente, aquela de que somos capazes de concebermos nossa própria experiência enquanto agentes, é algo exclusivamente humano (pelo menos no contexto atual em que vivemos). A consciência, portanto, respondendo à pergunta do início do parágrafo, caracteriza-se por sua capacidade de elasticidade às nossas ações. Em outras palavras, nossas ações, uma vez conscientes, deixam de ser mecanizadas — como nos animais — e passam a ter sempre a possibilidade de serem modificadas.

Assim, a nossa liberdade está condicionada às nossas experiências conscientes. Se perdemos, por algum fator, a capacidade de consciência estaremos diante da impotência de liberdade individual. Só somos livres — liberdade, aqui, em sentido amplo — se formos capazes de discernir sobre nossas atitudes. E a experiência consciente, aquela da qual sentimos e agimos intencionalmente, é a precursora de toda ação livre.

Acerca do título do texto, a biologia evolutiva ainda não detém respostas a tal problema da consciência. Ainda não se sabe as causas físicas para os qualia — sensação pessoal que cada indivíduo tem ao ter uma experiência. No entanto, a Filosofia da Mente e a Neurociência atuais trabalham com afinco em tal empreitada. Fica a dica para um estudo instigante.
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*A Redescoberta da Mente. 2ª ed. Martins Fontes.

Comentários

  1. Alguém já disse que " O essencial é invisível aos olhos"

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    1. Antoine de Saint-Exupéry.

      Muitas coisas são invisíveis aos olhos. A consciência é apenas um exemplo.

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