Existencialismo

Eu

Antes de qualquer juízo que façamos, sempre há um eu pressuposto e necessário para tal ação. Não há juízo, não há relação, não há nada humano se, antes de tudo, não houver este eu predisposto e sempre aberto ao mundo e ao outro. 

Este, não é um eu passivo, que recebe as informações e deglute-as, como se fosse um receptáculo universal de sensações. É um eu sempre ativo. Conhecer, relacionar-se, explorar... Tudo isso é ação, e, não, passividade. Se conheço, se me relaciono, se exploro, é porque busco cada um destes. É porque estou aberto e intenciono-os. 

Por outro lado, se busco cada uma destas atividades é porque o mundo ou o outro me dão a contrapartida de estarem diante de mim, não exclusivamente um diante físico, mas um diante que me induza a ele(s) até mesmo por recordação. E, se os recordo, é porque outrora o mundo ou o outro estiveram ao alcance, perceptivamente, do meu eu.

Não ajuízo, não amo, não odeio, não ignoro, não conheço, se, para isso, não haja o movimento duplo entre mim e aquilo para o qual estou dirigido. Embora o movimento de outrem ou do mundo não seja um movimento intencional, o fato de estarem diante de mim já se torna, originariamente, uma predisposição à minha atividade subjetiva.

Em resumo, se me relaciono com algo que não eu mesmo, há nesta relação uma bilateralidade intrínseca. Isto é, há sempre um eu em mim que visa e há sempre um objeto (amplamente falando) que é alvo e que tem suas particularidades que me atingem.

É impossível relacionar-se com o vazio. Só nos relacionamos com aquilo que, de alguma forma, visamos. E, se o visamos, é porque está lá para ser visado. Eis aqui a bilateralidade anunciada mais acima. 

Portanto, relacionar-se, de qualquer forma possível, é uma ação subjetiva que requer, obrigatoriamente, o relacionado diante do eu, seja uma presença atual ou não. Se for uma presença recordativa é porque damos a ela uma nova forma e um novo desejo. Damos novos elementos que a torna uma presença quase que real. Dessa forma, recordar é estar diante e visar o recordado, pois os novos elementos e o trazê-lo à tona são aspectos de torná-lo “objeto” para minha consciência.

Comentários