Consciencizar
De repente, tudo se enturvece. Passa de uma clareza translúcida a uma obscuridade inebriante. Sente-se a força de uma consciência que insiste em saltar para fora, em busca de um mundo que ela não contém. Não se sabe, todavia, como a consciência constrói o impulso que a leva sempre a uma nova forma de enxergar o mundo. Parece estar boiando numa salmoura intragável, da qual se quer sair, mas é tão pegajosa que insiste em mantê-la sobre ou sob ela. Paradoxo!
Tudo torna-se turvo. Até o que se sente é incompreensível. Pior que não compreendê-lo é não se desprender da própria consciência. Afinal, somos consciência o tempo todo. Mas, como modulá-la? Como dá-la uma nova forma de perceber, de se relacionar? Enquanto isso, ela nos esmaga. O mundo também nos esmaga.
Nada é mais duro do que viver sob os ditames de nós mesmos. Ter consciência não é saber que se sabe. Ter, ou antes, ser consciência é dirigir-se ao mundo e ao outro. O mundo e o outro também se dirigem a nós. Mas sua afecção para conosco é delimitada pelo sentido que damos a esta contrapartida. Afinal, “o problema não é o que fazem com a gente. O problema é o que a gente faz com o que fazem da gente.”
Se tudo enturveceu-se, é porque permitimos.
Tudo mudou. No início estava turvo. Agora, porque quis que não continuasse assim, tudo se clarificou novamente. Se obscureceu, não foi por culpa total do mundo. Foi, em prioridade, por minha culpa.
Não conseguimos ser absolutamente introspectos. Eis por que sempre estarmos à beira de um colapso quando decidimos viver um sentimento sozinho. Ressignificá-lo, quando preciso for. Só conseguimos viver porque atribuímos significados a tudo que faz parte da nossa vivência. Do contrário, seríamos apenas um andarilho sem destino, que anda na trilha do vento, como as caravelas em alto-mar.
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