Precisa-se de mais Zaratustras

Com a escassez de sabedoria e o inchaço de banalidades nos dias de hoje, parece que cada vez mais precisamos de contingente que incorpore o Zaratustra, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Mas, quem é e por que precisamos dele?

Zaratustra sobe ao topo da montanha, e por lá perdura por dez anos, para que possa, sozinho, tornar-se sábio, pois é apenas na solidão que o homem alcança a sabedoria nos seus pormenores. 

É na montanha, então, que o personagem contempla o Sol e faz uma crítica ao platonismo, mais precisamente à noção de sabedoria contida na Alegoria da Caverna presente no Livro VII d’A República. Nesta passagem, Platão expõe uma situação fictícia de que existe, no interior de uma caverna, homens acorrentados voltados para a parede da mesma, e que só conseguem enxergar as sombras do que acontece lá fora, desconhecendo o que se passa realmente. 

No entanto, um homem escapa às correntes e contempla o exterior da caverna, no qual se encontra uma fogueira que reluz o interior daquela, fazendo com que os homens que lá estão se deem conta apenas do que veem. O filósofo grego quer passar, com isso, que os homens são presos às imagens que têm das coisas e que desconhecem a realidade em si mesma.

A tarefa de Zaratustra é análoga à do filósofo platônico, o qual contempla o Sol (figurado na fogueira) e que desce à caverna para avisar aos demais homens do que acontece lá fora, como sendo a realidade. Entretanto, o personagem nietzschiano tem algumas dessemelhanças que são seus pontos principais como base da crítica que Nietzsche lança aos paradigmas culturais e filosóficos.

O primeiro aspecto distinto de Platão, apresentado por Zaratustra, é de que o Sol não representa nenhuma verdade. O homem é quem dá significado a ele, como podemos ver no trecho a seguir: “Tu, grande astro! Que seria de tua sorte, se te faltassem aqueles a quem iluminas? Há dez anos continuas subindo até minha caverna. Se eu, minha águia e minha serpente não estivéssemos aqui, tu te haverias cansado de tua luz e deste trajeto [...]” (NIETZSCHE, Prólogo de Zaratustra, § 1). 

Portanto, o homem cria significados para as coisas e, talvez por falta de uma boa reflexão acerca do objeto de significação, passa a viver sob uma espécie de prisão dogmática resultante de sua própria criação.

Em suma, a tarefa de Zaratustra é descer da montanha, após o bom tempo de reflexão e de sabedoria adquirida, para ensinar aos homens o que aprendera na solidão e livrá-los dos seus conceitos, muitas vezes, ortodoxos e dogmáticos. Essa é a iniciativa pedagógica que Nietzsche nos passa através de seu personagem.

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