Tentam, a todo custo, mecanizar a arte. Tentam atribuir formas, métodos e segmentos universais para colocá-la no mesmo patamar de “coisa”. Querem coisificar um produto inextricavelmente do espírito humano: um produto espontâneo daquele que o sente, que o externaliza.
Sou inclinado a concordar com Oscar Wilde* ao afirmar que quando se “tenta impor ao artista o que ele deve fazer, a Arte desaparece por completo, torna-se estereotipada, ou degenera em uma forma inferior e desprezível de artesanato.”
Não há meio mais originariamente humano que a obra de arte, em suas mais variadas formas. Como defendeu Merleau-Ponty**, a arte “está muito aquém do mundo e do designável para figurar outra coisa senão épuras do ser, seu fluxo e seu refluxo, seu crescimento, suas explosões, seus turbilhões.” Ou seja, ser artístico é se desdobrar enquanto ser que sente, que pensa, que é passividade e atividade o tempo inteiro, que projeta e se projeta, que antevê o mundo a partir de sua situação atual, enfim, um ser emotivo, em seu sentido amplo.
A insistência científica em dividir a unidade de tudo o que há segrega as partes e torna o uno mecanizado, apenas como a junção de outras partes que não ele mesmo. Todavia, a arte não pode passar pelo crivo da objetivação. O espírito humano não é normativo. Não sentimos de forma linear. Não vemos com os olhos universais, pelos quais todos veriam.
A ciência pretende universalizar os sentimentos, as emoções. Pretende normatizar a forma com que sentimos, enxergamos e nos relacionamos pessoalmente com o mundo. Neste contexto, a Individualidade se perde em detrimento de regras objetivas e sensíveis.
Em suma, que não pretendamos ser universalizantes em nossa forma de sentir e ver o mundo que nos rodeia. Muito menos, que não sejamos universalizantes no modo com que “explodimos” em direção à existência individual. A arte é a forma original de sermos quem somos, de externalizarmos o que sentimos, e, não, o que querem que sintamos.
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* A alma do homem sob o Socialismo.
** O olho e o espírito.
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