A presença que não se mede

Tudo parece escapar-me: é o cão que está lá fora, são os pássaros que cantarolam, são as pessoas que dialogam, são todas as realidades em paralelo com a minha. Mas, eu não escapo a mim mesmo. Sou uma presença única de mim a mim. Todavia, até o cão, os pássaros, as pessoas e as realidades que estão “fora” fazem parte de mim.

Imagina se fosse possível viver sem todos estes panos de fundo. Não é possível. Eu entrelaço-me entre figura e fundo, entre estar situado e a situação que me envolve. Não me abstraio do mundo nem daquilo que está próximo e até distante de mim, se este faz parte da minha vivência.

O enredo que o cão que está ali fora, os pássaros que se manifestam, as pessoas que conversam compõem é o mesmo que me abarca. Não me distancio sequer um instante de tudo isso. Sou presença o tempo todo no mundo. Componho o mundo e o mundo me compõe.

Sempre me remeto a algo que está presente, de alguma forma, a mim. Não me remeto a meu pensamento como única realidade possível e independente de tudo o que viveu. Meu pensamento se constrói com a (con)vivência mundana. Sou produto e, ao mesmo tempo, produtor. Enquanto um ser situado cultura e naturalmente, percebendo o mundo a partir de minha perspectiva, produzo as inter-relações pessoais, construo minha própria história.

Sou presença. Sou uma mescla de objetividade e subjetividade. Não me comparo àquele pedregulho que está acolá, na aridez da indiferença. Aquele pedregulho é impassível e de uma passividade espantosa. Eu, por outro lado, sou passividade complementada com a atividade que me direciona ao mundo, quer seja para desvendá-lo, mudá-lo ou apenas para relacionarmo-nos. Minha presença é imensurável: ao mesmo tempo em que sou eu, também sou mundo.

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