Loucura

O LOUCO | Maurício Takiguthi
Antes de a loucura ser uma construção social para marginalizar aqueles que não se enquadram numa normatização, como queria Foucault, é preciso que nos sensibilizemos quanto à perspectiva do sujeito: o sujeito “louco”. 

Se a abordagem da loucura for apenas historiográfica, como o faz este filósofo francês, a subjetividade daquele marginalizado, neste trato, é excluída.

Só é louco – embora se queira atribuir outra nomenclatura – aquele que vive sua loucura. Eu não me tornarei louco apenas pela decisão de sê-lo; se, em algum momento, não romper em mim um reduto existencial no qual eu me sinta permeado por ele e passe a perceber o mundo que me cerca a partir deste enredo.

Malcolm McDowell, ao interpretar o psicopata Alex DeLarge, em A Laranja Mecânica, jamais experimentou o mundo pela loucura que o encenava. Embora seu papel fosse bastante convincente, o ator, por trás da obra, não poderia ser um psicopata autêntico, porque a sua percepção do mundo ainda era a percepção daquele que interpretava. Não era uma percepção do interpretado.

É preciso entender que a loucura é uma forma de enxergar o mundo. É certo que não sabemos – ou não existe – qual a “forma correta” para isso. No entanto, enquanto se discute esta “normalização”, há sujeitos enredados em situações incomuns.

O louco é, antes de tudo, um sujeito que se relaciona – seja consigo mesmo, com o mundo que criou para si ou até para com outrem. Este relacionamento só pode se exercer sob a capacidade própria daquele que se relaciona. E esta capacidade é condicionada pela forma de como ele compreende suas experiências e como as acessa.

Ser louco não é, realmente, estranho; estranho é fazer da loucura apenas uma construção, quando, na verdade, ela é o sujeito que a vive em suas neuroses, psicoses, manias, prazeres.

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