A opressão dos benquistos

OS TRÊS DE MAIO DE 1808 | Francisco de Goya
“A cadela do fascismo está sempre no cio”. Com essa frase de Bertolt Brecht, podemos pensar um pouco no triunfo do ódio que emana das castas sociais que se pretendem “evoluídas”.

O faro dos cães sedentos por carne e sangue também se confunde com o cheiro de um cio sedento por cópula. Uma cadela que baba ao ver no horizonte um parceiro vigoroso e totalmente disposto para executar o movimento libidinal assemelha-se à população transbordada de todos os tipos de rancores reprimidos, à espreita de um acasalamento de ideais fóbicos.

Ao invés de inclusão, separação. A segregação ultrapassa a xenofobia: o ódio se esparrama pelo chão no qual pisam os pobres, negros, nordestinos, indígenas, homossexuais e todas as outras minorias à margem da “elite social”.

O paradoxo de um tempo de mais políticas inclusivas se escancara quando estas mesmas políticas são protagonistas de debates furiosos e de regressão. É a contradição de uma sociedade que, ao mesmo tempo em que se diz livre de preconceitos, é pano de fundo de manifestações contra a admissão de políticas de inclusão social – movidas pela luta contra o ódio disseminado daqueles que se autodenominam “pessoas de bem”.

O discurso de Trotsky, no texto A moral deles e a nossa, ainda permanece atual, quando afirma que a “democracia” é assegurada quando a classe dominante a defende em prol de seus interesses de contabilidade. É claro que não devemos tentar explicar todo o ódio social pela via simplista de diferenças de classes. Tal explicação extrapola este único fato. Entretanto, numa via trotskyana, podemos perceber que a segregação se aflora quando os marginalizados põem em risco os interesses elitistas, daqueles que detêm o poder centralizado nas mãos de poucos, e que defendem ainda os vislumbres dos aspirantes ou dos apenas iludidos. Mais que os elitistas, também, os conservadores dos diversos fundamentalismos religiosos se incluem neste pacote. 

“A decadência do capitalismo significa a decadência da sociedade contemporânea, com seu direito e sua moral” (Trotsky, obra citada), levando em consideração o ataque exercido aos “supra-interesses” dos monopolizadores de conveniências. Além do capitalismo, o domínio da grande mídia pelos coronéis defensores do conservadorismo faz aquilo que o Papa Francisco denominou de “colonialismo ideológico”, recrutando os atávicos a consumir a manutenção dos interesses “segregantes”.

Em suma, a faísca que desperta uma postura fascista, de repressão e de espetacularização da opressão é fácil de ser acesa. Só basta um cio ser correspondido para que a ninhada de defensores da “moral, dos bons costumes e da ordem” dê a cara para a vida. Afinal, a moral fascista não é a mesma moral que rege os marginais. Nestes últimos o senso da inclusão e da igualdade se aviva; os fascistas, por outro lado, têm o senso da vigilância sob força, do arrebanhamento de ideias sórdidas, da punição dos seus desertores e da exclusão.

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