Pessimismo, valoração e ação

CRUCIFICAÇÃO (GÓLGOTA) | Oskar Kokoschka
Ao me deparar com o pessimismo de Schopenhauer, contido em As Dores do Mundo, tenho a impressão de estar diante de um ensaio que tenta pôr o homem como uma inação perante o terror predeterminado do mundo.

Concordo com sua afirmação de que, diferentemente do bem, o sofrimento é positivo. Isto é, quando estamos em um momento de “felicidade” não nos damos conta de tal evento. No entanto, o sofrimento nos causa um impulso de superação e a consciência de que algo nos assola.

Concordo também com sua defesa de que o homem se assemelha a um relógio ao qual é dado corda e trabalha sem saber por e para quê. Isso nos leva a entender a falta de sentido da nossa existência, fazendo com que o inventemos.

Estou de acordo, inclusive, de que o homem é um ser de falta, ou seja, um ser que se angustia na mesma proporção em que idealiza sua vida.

Contudo, o mundo não é mau nem bom. O que denominamos “mau” e “bom” o é em decorrência de nossa valoração ou das nossas práticas. Práticas essas que se distendem daquela norma na qual estão inseridos atos aceitáveis e atos reprováveis. Neste sentido, o mundo é apenas o solo que nos sustenta, não tendo caráter anterior de maldade ou bondade.

Imagine um ser destituído da capacidade de valorar. Se ele for um ser apenas que sente o “mundo passar” diante de seus olhos e que apenas exerça suas funções primitivas de sobrevivência, mas que não ajuíza outras atividades, o mundo e o outro não têm característica nenhuma, nem para o bem nem para o mal.

O próprio ato de julgar o mundo como cruel, Schopenhauer só o exerceu porque era um ser que atribuía juízos às coisas. Estes juízos só são possíveis porque quem os possui é dotado de um pano de fundo cultural, de senso de justiça, de relação afetiva, dentre outros.

A maldade ou a bonança, portanto, são de cunho valorativo e de ação. Jamais existem antes de qualquer juízo ou antes de qualquer efetivação de um ato determinado. E este ato, para ser valorado por algum viés, já está incluído – ou passará a estar – no rol das ações permissíveis ou não.

O mundo não é mau. Só o homem pode criar a maldade – seja valorando-a, seja exercendo-a.

Comentários

  1. Uma resenha esclarecedora, boa divulgação filosófica. Lembrou-me "Para Além do Bem e do Mal" de Nietzsche.

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