Detalhe de O ESTÚDIO DO PINTOR | Gustave Courbet |
Tomando como fio condutor o pensamento do biólogo e filósofo alemão Jakob von Uexküll, o animal, do ponto de vista vital, é um ser altamente seguro. Explico-me. O animal visa apenas aquilo que ele mesmo atribui um valor vital – seja para a manutenção de sua sobrevivência, seja para a sua autoafirmação enquanto um “membro ativo” entre seus pares.
Mas falar de comportamentos particularmente animais não é o propósito deste texto. O exemplo de Uexküll serve, aqui, para mediar uma relação de atitudes seguras com atitudes meramente espetaculares, no sentido estrito do termo, ou seja, atitudes que só prezam a superficialidade e o espetáculo consequente.
Como já foi dito, o animal atribui valor vital ao meio que o circunda, para com isso agir de forma prática e precisa – tirando outras implicações biológicas e filosóficas.
É certo que, diferentemente do mundo animal, o mundo humano é extremamente mais rico, tendo em vista que o homem totaliza-o para além daquilo imediatamente dado. Em outras palavras, o homem não apenas visa as coisas à sua frente, mas absolutiza o mundo a fim de idealizar ações, valores e a si mesmo.
Esta riqueza de mundo possibilita ao homem se perder em suas tomadas de consciência. Possibilita a dispersão e a pequenez de comportamento, uma vez que a tempestade de experiências o afoga, justapondo diversos sentidos possíveis a uma ou mais situações. Eis um forte motivo para sermos responsáveis.
O valor vital referente ao animal esvai-se, no ser humano, numa pluralidade de significados que transcende o aqui-e-agora. O mundo totalizado não é mais aquele mundo pobre que se limita às coisas que estão em volta do ser. Ele carrega uma carga que, paradoxalmente, só é visada pelo homem e, ao mesmo tempo, é humanamente impossível de pô-la nas costas.
Em resumo, o que podemos apreender do comportamento animal é a precisão de ação. O valor atribuído a algo deve ser fundamentalmente erguido, para que se torne, de certa forma, amplamente vital – seja para nós enquanto viventes, seja para a convivência geral ou, ainda, para um diálogo honesto.
Com a animalidade ultrapassada, nos resta a compreensão do total, do absoluto e também do basilar. Não se pode agir sem a noção das consequências e sem o conhecimento do fundamento do problema. A ação deve ser parte de nossa experiência vivida, mas não uma experiência meramente passiva, e, sim, uma experiência refletida que nos adapte na imensidão de inadaptação que somos. Porque não somos adaptados, uma vez que somos desprovidos de instintos e proteção no sentido puramente animal. Somos adaptáveis, visto que criamos nossa vivência. Ou seja, executamos a adaptação.
Enfim, a segurança da ação é a afirmação de que nos mantemos no seio do mundo de forma responsável – não só na manutenção da vida, mas também na certeza de construirmos um mundo que seja o solo de sustentação igualmente para todos.
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