O poder da sexualidade explícita

A ORIGEM DO MUNDO | Gustave Courbet
O que é poder? Seguindo o que Mario Stoppino defendeu, no Dicionário de Política, “poder” é o que vai desde a capacidade de agir até à formulação do comportamento do homem. E a esfera do poder se expande a várias formas de relação. Como ainda este autor afirma, uma mesma pessoa, ou grupo, pode estar submetida a vários tipos de poder, dos mais diversos campos.

Com a sexualidade explícita, com o hiperculto ao corpo e à libido, bem como à virilidade e à sensualidade, o poder se manifesta por ditar um padrão social. Assim, o sexo é uma forma de relação totalitária. O comportamento da sociedade imersa neste fator, portanto, vincula-se também ao relacionamento que os indivíduos mantêm no âmbito sexual.

O poder sexual é tanto que foi preciso instaurar lei binárias, para falar como Foucault, em História da Sexualidade – A Vontade de Saber, do tipo lícito/ilícito, permitido/proibido. É claro que hoje, em nossa cultura, não vemos mais tais leis – salvo, obviamente, a lei antiestupro, que não se encaixa nisso. Apesar disso, algumas vertentes religiosas ainda persistem nessas privações.

Tais proibições, em sociedades conservadoras e fundamentalistas, denunciam ainda assim o grau de potência que o sexo promove no comportamento da humanidade.

Vemos, corriqueiramente, aquilo que Foucault (mesma obra, p. 87) disse: que “dentre seus emblemas, nossa sociedade carrega o do sexo que fala.” O autor não fala isso se referindo à “hipersexualização” de hoje, mas à curiosidade e à vontade de ter prazer em saber/descobrir o que sempre foi tabu.

Esse emblema que a sociedade sempre carregou – o do sexo – hoje se configura na acentuação e explicitação da sensualidade. O sexo não apenas fala, mas uiva e emite seus raios até àqueles mais resguardados.

O poder dessa sexualidade bate à porta de todos, convidando-os a se submeterem. Dessa forma, ancorando-me no pensamento de Stoppino acima, se a sexualidade tem peso sobre a capacidade de agir dos indivíduos e se houver uma totalização desses indivíduos, o comportamento torna-se globalizante – afetando, de alguma forma, todos.

Talvez toda esta supervalorização sexual se dê pelo fato de ter sofrido, durante os séculos da história social humana, grande repressão, e que hoje se vê um pouco emancipada.

Em suma, o poder que emerge da “sexualização” segrega aqueles que dele não fazem parte, como qualquer outro tipo de poder. Há, neste sentido, uma espécie de marginalização aos que estão do lado de fora desta lógica.

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