A nossa contingência

MARGENS DO RIO | Pierre-Auguste Renoir
Somos uma espécie. Não como outra qualquer, porque todas têm suas peculiaridades e, portanto, suas desigualdades. Mas somos um processo e uma estabilidade temporária no mundo, assim como os outros seres vivos.

Ocupamos uma temporalidade em que as mudanças evolutivas e adaptativas estão a cada instante ditando nosso futuro.

Daqui a milhões de anos, se não formos erradicados, com certeza seremos extremamente diferentes do que somos hoje.

Essa mudança não é o efeito de uma busca por um fim predeterminado, mas o ajuste às mudanças que o mundo e a própria história nos impõem.

O problema de hipotetizar uma finalidade humana – uma teleologia – é o de atribuir às mudanças da espécie um caráter necessário, e, não, contingente. Assim, a evolução torna-se totalmente decifrável, excluindo de sua constituição os “fatos ocasionais” da trajetória evolutiva.

Adotando uma teleologia humana, e analisando o desenvolver da espécie de seu início, a evolução/adaptação deveria estar ligada a um fim que ela ainda iria construir. Isso nos soa estranho.

A variação deturpa aquela estabilidade provisória, de modo que a transformação “homeopaticamente” constante se torna imprevisível, uma vez que também está condicionada ao exterior.

Sendo assim, aquele ponto de vista do início da espécie, decifrando todo o processo evolutivo a um fim predeterminado, é impossível. 

Só se estipula esta forma teleológica do ponto de vista atual, quando as ações humanas já possuem uma história efetiva e que se pode, com isso, afirmar uma ordem vivida e a se viver. A própria evolução humana se torna o exemplo e a referência para tal finalidade.

Portanto, a variabilidade e a contingência do processo evolutivo marcam a imprevisibilidade do posterior sobre o primitivo. Em outras palavras, não há uma pré-formação de conduta no ser primitivo, visto que sua vivência se elabora intrinsecamente na experiência de viver.

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