PASTOR DORMINDO COM SEU CÃO | Filippo Palizzia |
Ações morais são as que se vinculam aos princípios éticos, os quais são estipulados de antemão.
Mas, a ética sendo instrumento humano, como poderíamos estendê-la aos animais?
O pensamento ético tem a finalidade de melhorar a vida dos agentes e de garantir a vida social, como um todo. São princípios que visam (ou deveriam visar), basicamente, a igualdade, a prudência e o respeito, tornando os mais frágeis passíveis de inclusão e “segurança social”. Além disso, têm o papel de manter uma vida sem sofrimento, em busca da felicidade, como defendiam os utilitaristas.
Os animais são uma realidade que caminha ao nosso lado. O fato de não serem humanos não é critério de exclusão.
O problema dessa “exclusão animal” se deve ao pensamento antropocêntrico – que põe o homem acima de todas as espécies –, esquecendo as suas diferenças radicais para com a animalidade.
A diferença radical do animal, em relação ao homem, é o que o torna o que é, sem relacioná-lo às estruturas humanas. Reconhecer, antes de tudo, a animalidade em sua diferença para conosco é o primeiro passo para o cumprimento de um respeito autêntico.
Compreender que o animal não é um “sub-humano” é torná-lo uma existência digna, possuidor de seus “interesses” próprios. A isso podemos referir aquele princípio utilitarista de que se vive evitando o sofrimento.
Destituir o animal de um “si”, ou seja, de uma subjetividade, é reduzi-lo a apenas um automatismo, o que não é o caso. Isso explica, em muito, a sensação de superioridade humana.
Todavia, se o reconhecemos como uma existência particular, assim como a nossa nos é, veremos que ele é um ser que “reivindica” uma vida plena e, por isso, desvia-se daquilo que possa cessar esse gozo.
Portanto, pensar os animais eticamente é reconhecer que eles não são uma espécie abaixo da humana, e, sim, uma realidade em paralelo conosco que age e que sente à sua maneira.
É preciso dar ao animal o que lhe é próprio. Não nos cabe atribuir a ele estruturas humanas, corroborando, com isso, com seu rebaixamento à subespécie. Em outras palavras, se o compararmos com o humano correremos o risco de fazer da diferença antropológica um critério de “colonização animal”, por meio da premissa de que somos mais evoluídos.
Em suma, pensar eticamente a situação animal não é transferir as práticas destinadas ao convívio humano para os animais; é fazer da outra espécie, justamente, uma outra, para que, assim, garantamos a diferença entre nós não base para exploração, mas o reconhecimento de realidades existenciais, interesses e forma de vida própria.
Por fim, respondendo à pergunta do título: devemos pensar os animais a partir de um ponto de vista ético para garanti-los o desenvolvimento pleno de sua existência, visto que o fato de não possuírem os mesmos dotes humanos não os faz impassíveis frente ao seu sofrimento. Eles continuam, de toda forma, a serem um “si”, uma subjetividade operante e senciente – quer acreditemos nisso ou não.
Pensar dessa maneira faz com que a garantia da liberdade do outro, que mencionamos no primeiro parágrafo, seja exercida e, portanto, passamos a agir moralmente em relação à vida animal.
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