A limitação do homem moderno

ENDYMION | George Frederick Watts
Há um anseio da nossa vida interior que “alimenta” o nosso modo de se relacionar com o mundo que nos circunda. É a ânsia de significação ampla que excede os limites sensoriais e conscientes.

A religiosidade, por exemplo, não se reduz meramente à cultura de cada sociedade. Mas a principal raiz de sua manifestação é a necessidade de o humano atribuir sentidos que transcendam a estrita fisicalidade de sua existência.

Sentir-se perdido é consequência de não encontrar ou inventar um caminho em meio à falta de sentido próprio do mundo. Dar sentido à totalidade da existência é uma necessidade de cada um e de todos nós. Os meios para tal não importam. As religiões, as filosofias, as místicas, todas são meios para alcançar este fim.

A falta de sentido de vida e de “espiritualização” faz com que vaguemos na superfície das efemeridades que nossa sociedade produz, principalmente numa época em que se vive para consumir.

Jung, no livro O homem e seus símbolos, nos alerta que: “É a consciência de que a vida tem uma significação mais ampla que eleva o homem acima do simples mecanismo de ganhar e gastar. Se isto lhe falta, sente-se perdido e infeliz.”

Muitas vezes não nos damos conta deste sentimento de “desamparo”, porque estamos muito ocupados com as atividades cotidianas. Mas, logo que paramos e refletimos, quando não temos um sentido interior, percebemos um certo desarranjo em nossa existência: a falta de um valor que alicerce nossas ações e nossas inter-relações para além do imediato.

Talvez seja esta percepção de falta de significados que mantenha a grande maioria das pessoas em busca de preenchimentos efêmeros, a cada dia precisando atualizá-los. E a solidão, nesse caso, é a grande inimiga, uma vez que a própria companhia se torna um vazio assombroso.

O homem moderno, pelo menos o ocidental, no geral, pode ser mais facilmente acometido pela “assignificação” existencial, tendo em vista que sua vida se mantém dirigida para a produção exagerada que, rapidamente, torna-se obsoleta. Falta, para ele, uma espiritualidade que o transforme do interior.

O mundo, no contexto do consumismo, transforma-se num “quarto de despejo” dos amontoados produzidos constantemente e que logo são descartados.

E a ciência, por outro lado, por sua metodologia (e, aqui, não entro em mérito de juízo de valor), não permite ao humano pensar-se espiritualmente. Como Jean-Luc Nancy disse, em Arquivida, “prolongamos a vida simplesmente por prolongá-la, geramos serviços para vidas então extensas, aprimoramos nossos conhecimentos bioquímicos, biomecânicos, de onde tiramos novas possibilidades para outros tipos de ajuda a outras vidas ameaçadas – e estamos cada vez mais distantes de saber pensar ‘a vida’”.

O homem de hoje tende a perder-se no aglomerado dos objetos, a ponto de se confundir com eles – não por “essência”, mas por falta de reflexividade.

Comentários