HÉRCULES NA PIRA | Guido Reni |
Jesus Cristo, cuja difusão de seus ensinamentos aniquilou diversas outras culturas; Mussolini, que, junto ao seu grupo Fasci, ascendeu ao poder na Itália em crise socioeconômica; Hitler, que se tornou figura salvadora do povo da Alemanha arrasada economicamente ainda em decorrência da I Guerra; todos estes – apenas para citar os mais enfáticos a nível global – ascenderam à figura de herói frente a idolatrias que lhes renderam poderes ilimitados.
No caso de Cristo, em especial, o poder de “herói” – ou de salvador – foi-lhe confiado por seus discípulos ou seguidores, e que foi passado de geração em geração conforme seus interesses próprios.
Por outro lado, Mussolini e Hitler chegaram a este patamar pela autopromoção, propaganda e leniência idolátrica dos seus súditos.
A linha que separa um herói de um tirano é muito tênue. Quase imperceptível. Por isso, poderes irrestritos a uma figura particular pode se tornar extremamente maléfica para o bem comum quando o detentor da força a usa para fins que não necessariamente fazem parte do interesse público.
Como controlar a tirania do pretenso herói? Destituindo-lhe o “cargo”.
O herói, com seu poder potencial – quando se pode fazer algo, mesmo que não o faça –, tem diante de si caminhos que podem levá-lo a alternativas de inclinação pessoal. Ele é, para falar como José Murilo de Carvalho, em A formação das almas: o imaginário da República no Brasil, a encarnação de ideias e aspirações, ponto de referência de identificação coletiva.
Mas, que identificação coletiva é essa? Será que essa coletividade expressa o bem comum, o interesse público, realmente?
Se um suposto salvador da pátria ou de um povo se comporta, em um determinado momento da posse de seu poder, discrepante daquilo pelo qual se tornou uma figura heroica, é sinal de que o poder deturpa o caráter, e seu domínio é reflexo de suas vontades.
A mudança de qualidade do suposto herói configura a relação íntima entre o poder atribuído a ele e sua “liberdade de comando”, uma vez que está em suas mãos o destino de um povo.
Os super-heróis de cinema não existem na realidade. Na realidade existem conveniências.
A “onipotência” é popular e continuada. Não é de um só.
Pela liberdade individual e coletiva, o herói deve ser destituído. Se a reivindicação não vir de todos os confins de uma sociedade devidamente bem informada, descentralizada, aquele que foi eleito a salvador gerará, provavelmente, sua face mais cruel.
Mesmo que a história seja marcada por figuras heroicas centrais, místicas ou não, é necessário que interroguemos e vigiemos as consequências destas mitologias.
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