A virtude para a vida

ETERNO DILEMA DA HUMANIDADE: A ESCOLHA
ENTRE VIRTUDE E VÍCIO | Frans Francken
A preocupação do bem viver está na raiz da filosofia. Desde Platão, notadamente, que a reflexão sobre o que é o bem, o justo e demais características virtuosas tem destaque no pensamento filosófico.

É certo que a filosofia acompanhou o progresso das ciências e se tornou complexa tanto quanto estas, não apenas tratando de temas referentes à “arte de viver”.

Voltando ao tema, Platão já elencava, n’A República, pelo menos quatro virtudes que deveriam guiar o homem bem instruído: sabedoria, coragem, moderação e justiça.

Cícero, pensador latino que viveu também antes da era cristã, seguindo a via platônica, afirma, em A virtude e a felicidade, que apenas a virtude é necessária para se viver feliz.

A virtude é a razão perfeita, livre das ilusões que podem cegá-la.

O viver feliz (beate vivere) significa a serenidade da alma, imperturbabilidade frente aos males do acaso (fortuna). Para isso, o sábio, segundo Cícero, é aquele que é envolto da coragem e da temperança. É nisso que consiste a virtude.

A coragem dá ao sábio a disposição para lutar contra o temor, a dor e o perigo que a fortuna o impele, inevitavelmente. A temperança permite-o controlar as paixões que podem o tornar inconsequente.

Para firmar sua teoria sobre a felicidade, Cícero critica o pensamento de Epicuro

Enquanto Epicuro defendia que o homem deveria buscar apenas os desejos naturais e necessários, evitando todos aqueles que não compreendiam a natureza humana, Cícero afirma que tal postura exclui da nossa existência aquilo de mais comum: a fortuna.

Epicuro, portanto, não atentando ao acaso, deixava o homem “à deriva”, sem prepará-lo para os percalços naturais da vida. Pois, mesmo que o homem busque apenas os desejos naturais e necessários a seu viver, a fortuna às vezes se encarrega de pregar males externos.

Diante desta vulnerabilidade, a virtude que constitui o homem sábio, impedindo que este se abale com os males do acaso, é uma ferramenta contra o sofrimento possível e a favor da saúde constante da alma.

O homem, assim, deve ser uma constância de coragem e temperança – discernindo o que é justo daquilo que é reprovável, além de aprender a se manter forte independentemente do que possa lhe afligir.

A filosofia de Cícero, dessa forma, é aprender a viver tanto em conformidade com as suas próprias escolhas como com as intempéries do acaso.

Ser sábio é sempre estar satisfeito com o que se possui atualmente, defende o filósofo latino. E, também, não se lastimar de sua sorte. É nisso que consiste a sabedoria.

Talvez o diálogo platônico Críton esboce a referência prática de Cícero no que concerne à virtude: preso e condenado à morte, mesmo após uma extenuante defesa, Sócrates rejeita a fuga da prisão para não contradizer seus princípios morais.

A vida é uma luta perene. Requer coragem para o enfrentamento, temperança para o equilíbrio e sabedoria para entender a si mesmo e o que lhe compete.

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