CORUJA EM UMA JANELA GÓTICA | Caspar David Friedrich |
Em ambos os casos – para citar apenas estes dois – reduz-se o filosofar a um empreendimento dogmático que de filosofia não tem nada, apenas a nomenclatura descentrada de sua real atividade.
A filosofia também não é Sabedoria. Sobre isto podemos remontar à Grécia Antiga, quando os sofistas (sophós), que eram os sábios da época, viram suas posições desmoronarem sob as interpelações socráticas.
O filósofo é aquele que questiona o sábio. Isso tanto para expurgar qualquer embaraço como para evidenciar os fundamentos das verdades expostas – se houver.
Filosofar não é dar respostas definitivas a variados problemas. Filosofia não é manual de conduta nem código de felicidade imediata aos desolados, embora conflua, em alguns aspectos, para isso.
Filosofia também não é proferir frases de efeito, revestidas (ou não) de ornamentos poéticos ou de vaidosos vocábulos que ninguém conhece.
Filosofia é a busca da verdade. Não uma verdade estática, que se encontra no núcleo daquilo investigado, na qual pudéssemos “tocá-la” como um objeto visível. Mas a verdade como um movimento incessante, que funda a complexa “humanidade do homem” em suas contingências.
Afinal, seguindo o pensamento de Karl Jaspers, na conferência A filosofia no mundo, o filósofo é aquele que se põe à procura do homem, escutando o que ele diz e observando o que ele faz para com isso partilhar de um destino comum da humanidade.
E a verdade que a filosofia busca acompanha a dinâmica humana que a tem como fundamento. Não é a mesma verdade da física.
O filósofo se caracteriza pelo movimento contínuo que o leva “do saber à ignorância, da ignorância ao saber, e um certo repouso nesse movimento”, como afirma Merleau-Ponty, em Elogio da filosofia.
É neste movimento pendular que se monta o filósofo, porque este não arroga a Verdade absoluta e definitiva, tal qual o sábio.
A filosofia, então, não é um oráculo que tudo sabe, como se o mundo humano estivesse chegado a seu fim (télos) e daqui não mudasse mais. Ela é o perene interrogar, porque é na interrogação que descobrimos se a mesma verdade que regia a sociedade platônico-aristotélica é ou não a mesma verdade que rege a pós-modernidade de hoje.
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