A CRIAÇÃO DE ADÃO | Michelangelo |
É comum ouvir – e eu já o proferi –, por parte dos incrédulos, questionamentos de como um cientista ou filósofo podem continuar crendo em Deus apesar de seu largo conhecimento.
Uma das possíveis explicações para esta manutenção do divino é que sua raiz se encontra na radicalidade do mundo. Dito de outra forma, Deus remonta, em última instância, ao “princípio primeiro” de tudo o que a partir dele se irrompeu.
Não falo de Big Bang, por exemplo. Falo justamente daquilo através do qual o próprio Big Bang foi possível; daquilo que permitiu que a singularidade se transformasse no universo no qual surgimos.
Deus – ou qualquer outra designação que lhe queira atribuir –, muito provavelmente, talvez escape às interpretações que as diversas religiões lhe imputam. Mas, uma das características mais primordiais está no fato de que em sua concepção repousa toda a possibilidade de tudo o que há.
Assim, o primeiro motor é um “possibilitador”; é o ímpeto pelo qual tudo emergiu. Não importa o quanto as teorias científicas estejam corretas. O que importa, para a intuição de um primórdio fundamental, na acepção estrita da palavra, é a primazia indefectível de algo promotor de toda a realidade.
Até a partícula Deus, o Bóson de Higgs, que produz matéria, necessita de um fundamento que a possibilite ser o que é. A energia, existente antes da Grande Explosão, também carrega consigo a necessidade de ter sido possibilitada.
O princípio, nesse contexto, é o que fomenta a necessidade de Deus, embora teorias diversas o construam conforme suas conveniências ou visões de mundo.
Tudo o que é provém de um fundamento. Se esse fundamento não é um fator basilar construído no tempo cronológico que conhecemos, é pelo menos uma “estrutura germinal” que possibilita o universo ou os multiversos.
Do nada absoluto é contrassensual pensar irromper qualquer realidade. Só se pode pensar no nada determinado, confrontando-o, por outro lado, com uma positividade – algo que já é. Dessa forma, não dá para pensar a formação do universo a partir de um suposto nada irrestrito.
Esse “nada”, ausente de qualquer “ser”, seria a supressão própria de qualquer pensamento. Esse último se perderia no vácuo profundo do nada e se manteria inerte.
Exposto isso, a concepção de um “princípio primeiro” parece ser a recusa de uma obscuridade insuperável e a afirmação do Ser originário no qual existimos.
Enfim, a necessidade humana de um “princípio primeiro” ainda está muito longe de ser superada, creio eu. E as teorias científicas só caminham no ambiente já possibilitado e pressuposto do Ser que o permitiu.
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