A PARÁBOLA DOS CEGOS | Pieter Bruegel, o Velho |
Penso que, na filosofia, quem desfere críticas raivosas ou de menosprezo à Idade Média são aqueles que dela nada sabem ou que nunca a leram. E, se leram, o fizeram com a mente totalmente direcionada às suas convicções, nada importando o que se lia.
No ápice de minha imaturidade intelectual (hoje sou menos imaturo que antes) disparei críticas cheias de preconceitos e de desconhecimento contra o pensamento medieval. Mal sabia eu que ali havia um profundo e real compromisso com a Verdade, a preocupação primeira de toda a filosofia. Isso se deu porque simplesmente nunca a havia lido.
Só depois de ter contato com algumas obras respectivas é que percebi o quanto eu era ignorante a esse respeito.
É preciso sensibilidade intelectual para lê-los. Compreender que o contexto era outro, não menos digno que o nosso. Enxergar, também, que dogmas existem em todos os campos e em todas as épocas. Mas, sobretudo, perceber que a busca da Verdade, nesse período da história da filosofia, ia aos extremos da capacidade intelectiva.
A filosofia medieval não é o mesmo que “personificação de Deus”. Fílon de Alexandria (20 a.C.-50 d.C.) foi o primeiro filósofo a alertar sobre a leitura não literal da Bíblia, justamente para livrar Deus de um antropomorfismo (confira Questões sobre o Gênesis).
Até Agostinho, um dos pensadores que mais se valia das Sagradas Escrituras, salientava que não bastava crer, mas buscar, incessantemente, a compreensão da crença.
A filosofia medieval é de uma profundidade e densidade tamanhas que, se o leitor não possuir uma educação filosófica e/ou interpretativa razoável, nada dela entende.
Fílon de Alexandria, Agostinho, Tomás de Aquino, Duns Scot, dentre vários outros, foram pensadores que sempre se preocuparam com o entendimento do Princípio, do universo, das coisas e do homem. Suas filosofias são exemplos de profundidade filosófica e de investigação lógica.
Não se diferenciavam de nós, que, mesmo por meio de métodos diferentes deles, ainda não compreendemos muita coisa.
No mais, eu gostaria de, no meio filosófico, o lugar dos preconceitos fosse preenchido por aquilo que a filosofia é: honestidade intelectual e diálogo desprovido de acusações prévias.
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