Por uma ética das virtudes

ALEGORIA DA SABEDORIA E 
DA FORÇA | Paolo Veronese
Ultimamente, muito tenho lido e escrito sobre os antigos, especialmente a filosofia estoica  que discorria, sobretudo, em relação às virtudes morais.

Na filosofia, precisamente no que se refere ao academicismo, esta parte filosófica é vista com uma certa discriminação. 

Para os “acadêmicos ortodoxos”, aqueles que se erguem sobre um pedantismo intelectualoide, esta vertente filosófica é tida como primária, ou seja, sem relevância para o conhecimento filosófico e científico.

Contudo, aprendi a valorizar aquilo que, na Academia, me foi negado, salvo poucas aulas nas quais foram mencionados aspectos do referido pensamento filosófico.

Aprendi a perceber o valor de refletir, seriamente, sobre uma ética das virtudes. Não apenas refletir, mas também pôr em prática aquilo que é possível absorver no nosso mundo contemporâneo.

O mundo e eu, assim como o outro e eu, mantemos uma relação ambivalente, na qual ambas as partes interagem e necessitam uma da outra; somos interdependentes. Assim, para que eu saiba respeitar e me relacionar eticamente com outrem, é preciso que eu conheça a mim mesmo. É preciso que eu conheça o homem  seus limites e seus fins.

Para que esse conhecimento ocorra, dentre outras coisas, faz-se necessário que eu parta do que me é necessário, do que me compete, do que está ao meu alcance e fora dele. Isso me garante serenidade, sabedoria, inspeção, ponderação.

Quando me disponho ao outro ou ao mundo, preciso estar completo de mim. Esta completude me ajuda a compreender o meu papel e a minha responsabilidade, além de preparar-me para não cair em desespero e nem em covardia.

Uma vez que nossas ações têm como polo nós mesmos, ou seja, somos aquilo que reluz o princípio da ação, a fonte daquele agir, precisamos estar amparados pela ética, e, principalmente, pelas virtudes.

A virtude, que é uma capacidade continuada do homem no domínio moral, conhecendo o que é seu dever, o que é seu por natureza e o que lhe escapa, deve ser o primeiro motor do homem em direção à relação com os outros e consigo mesmo.

Com esta primazia da virtude para com a relação consigo mesmo e para com as inter-relações, a ética das virtudes se torna o veleiro do homem na sua condução no mundo dos homens, do acaso, das intempéries e de tudo aquilo que requeira um discernimento apurado.

O lema socrático do “conhece-te a ti mesmo” nunca deveria ter se mantido em desuso. É um apelo que se faz preciso do homem antigo ao contemporâneo.

O homem virtuoso não é aquele que comete uma única ação moral, mas aquele que permanece com seu ímpeto moral sempre aflorado e à espreita, sem se desvirtuar de seus princípios.

A filosofia do autoconhecimento é a preparação íntima do agente moral. Sem conhecer a si próprio, ao homem e às coisas que estão inevitavelmente no caminho a ser percorrido, aquele que pretende agir moralmente pode ficar à deriva quando as contingências da vida lhe assaltar.

O autoconhecer-se é a propedêutica (instrução preparatória) para o agir, para o estar no mundo, para compreender o que o cerca. Dessa forma, o autoconhecimento é a base do homem para a sua retidão e sua moralidade.

A ética da virtude é a pedagogia do homem moral.

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