O comum entre a sabedoria e a santidade

CARIDADE | Francesco Salviati
Em um documentário sobre Madre Teresa de Calcutá, da GloboNews, o filósofo Roberto Romano afirmou que o sábio e o santo abrem as portas da humanidade para o eterno.

Romano quis nos dizer que estas duas figuras humanas carregam consigo a vivência em princípios universais, que extrapolam qualquer particularidade histórica ou individual.

Seguindo o que afirmaram Platão, na República, e Cícero, em A virtude e a felicidade, o sábio é aquele que tem uma vida virtuosa. As virtudes da temperança, da moderação, dentre outras, são as que levam o homem à felicidade e a uma vida desprendida daquilo que é dispensável: honrarias, riqueza, opulências em geral.

O santo, em paralelo, é aquele que vive um desprendimento semelhante ao sábio. Mas tem um adendo de princípios cristãos, como a caridade. Esta última é um valor que tem o Outro como alvo precioso, porque amar a Deus só é possível por meio do irmão, que é Sua imagem e semelhança.

A Constituição Dogmática Lumen gentium, da Igreja Católica, produto do Concílio Vaticano II, expõe que a “santidade [...] exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo”. Pontua que todos têm uma vocação à santidade.

A caridade, o ajudar o necessitado como sendo a representação de sua própria vulnerabilidade e miséria, é um valor que está para além de qualquer situação particular. Universaliza-se no próprio ato caridoso, uma vez que o cuidar reflete a responsabilidade humana de uma forma geral.

Vemos que as portas do eterno, a que Romano se referiu no documentário, nos faz enxergar que tanto o sábio como o santo abdica das acidentalidades da vida comum em prol de princípios ou de ações que norteiam uma vida plena. 

Esta plenitude se constitui da consciência de que, para além da imediaticidade em que vivemos, há uma dimensão que pode ser universalizada sem que ponha em risco o ser humano. Ao contrário de um possível risco, eleva o homem. Esta dimensão é aquela em que vivem todos os que, voluntariamente, se desprendem das paixões corriqueiras e passam a ver a vida como um fato grandioso e o Outro como dependente das suas atitudes.

Só é possível viver nesta esfera de Infinito a partir da prática que os princípios propõem. As portas da eternidade são o exemplo de que viver não é apenas reagir aos estímulos exteriores, mas pensar que nós temos a capacidade de ver o mundo sob a ótica da totalidade e, com isso, praticar atos que içam o próprio espírito e o do outro à ternura.

O desprendimento do que não nos acrescenta enquanto humanos é o primeiro grande passo para o eterno. Ser eterno, aqui, não tem uma conotação temporal, cronológica. Significa que podemos ultrapassar o aqui e agora e pensarmos e agirmos conforme aquilo que é bom em qualquer circunstância. O amor e o cuidado são exemplos básicos disso.

O sábio e o santo são aqueles que conseguem permanecer no centro de si mesmo e do mundo, consciente das limitações e das obrigações aos quais são impostas.

A mensagem que eles levam para a humanidade é de que esta ultrapassa seus problemas mais banais a partir do momento em que olha para além deles, para o horizonte que valida o discurso e a ação intransponíveis, perenes.

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