VELHOS COMENDO SOPA | Francisco de Goya |
A Ética, as morais, o Direito só existem para tornar as relações humanas suportáveis e possíveis. São instrumentos de convivência. São criados. Não são a natureza humana.
A barbárie nos fundamenta. Está na nossa raiz. A nossa animalidade precede a nossa humanidade.
Repudiamos tudo o que vemos de repreensível nos outros, mas que nós mesmos praticamos – algo já dito por Cioran. Este repúdio denuncia uma natureza inculta: vivemos, antes, um mundo só nosso.
O outro só é agregado a este mundo por meio de uma criação permissiva: a sociedade e tudo o que nela é introduzido em benefício do convívio.
A capacidade humana de pensar o universal é também um efeito de sua fraqueza. Não é uma característica superior, comumente defendida.
Esta capacidade é fruto, antes, de uma falta do que de uma abundância. Precisamos sempre inventar nosso viver e nosso conviver. E o pensamento é um instrumento por meio do qual esta falta pode ser preenchida.
O pensamento pode ser considerado superior em relação ao grau, referido aos outros animais. Mas, qualitativamente, não.
Vivemos, basicamente, como outros animais, só que em grau mais sofisticado.
A fraqueza humana é a consciência de sua limitação. O universal é a tentativa de essa fraqueza ser superada em prol do viver comunitário.
Se nos deixássemos às nossas sensações animalescas, o mundo humano seria um terror diário levado ao ápice.
O homem enquanto lobo do homem, como afirmava Hobbes, mostra a animalidade que nos baseia.
Nietzsche já falava do Estado como uma hábil organização para proteger os indivíduos uns dos outros.
Jó reconheceu sua vileza diante dos mistérios do seu Senhor por sentir-se em sua condição de pequeno e incapaz.
O melhor dos homens só o é porque conseguiu sublimar a pequenez do humano com um extraordinário senso de vida. É assim que é invejável e seguido.
E o pior dos homens – por que não o verdadeiro? – é o que vive suas pulsões mais primitivas.
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