A ELEIÇÃO DO CONDADO | George Caleb Mingham |
Quando submetidos às escolhas dentre os outros tendemos a sermos intransigentes quando nossas vontades não são satisfeitas. E a eleição, por ser uma escolha de representatividade, é um bom exemplo disso.
Esquecemos, geralmente, que a eleição é apenas uma parte da política. Esta última é um todo que comporta partes distintas e ações diversas.
Em A política, Aristóteles afirmava que o homem, sendo naturalmente um animal político (zoon politikon), a Política seria um bem da natureza.
Obviamente faltava estudo antropológico e evolucionário ao filósofo grego. Mas o que importa em seu pensamento é que, uma vez o homem instituído numa sociedade, sua subsistência social se deve à ação política.
O sufrágio, como um ato cidadão e, portanto, parte da Política, é “dizer sim ou não a uma ação julgada por suas consequências vitais”, como defendeu Merleau-Ponty, no texto Sobre a abstenção.
Estas ações, julgadas vitais, são a afirmação de que o ato de fazer política é indispensável para a manutenção da nossa vida pessoal e em sociedade. Como afirmou David Lyons, em As regras morais e a ética, “a lei é responsável por nossos destinos”.
E a lei, enquanto produto legislativo, é um efeito político.
A vida em sociedade é indissociável do fazer política. Política é, também, aquilo que Karl Jaspers afirmou, na sua Introdução ao pensamento filosófico: possibilidade de coexistência livre.
É necessário que os homens façam política, porquanto são seres sociais. A boa política é o mecanismo de elevar esta livre coexistência ao nível da dignidade minimamente universalizada.
A Política é o modo de exercer a promoção e a defesa da manutenção da sobrevivência dentro de um todo que, de outra forma, seria caótico. Este todo é o corpo social.
O pacto social, tão esmiuçado por Rousseau, é a garantia de todos agirem por um comum acordo, voltados sempre aos interesses de si e dos outros em permanecer num tal estado de coisas: a convivência pacífica.
A Política é a manutenção deste pacto, bem como seu aperfeiçoamento e aprofundamento.
Um dos problemas dos filósofos gregos clássicos, como Aristóteles, talvez seja definir a Política como valor absoluto ou anterior à prática. Contudo, Política só se caracteriza enquanto tal na efetivação daquilo que os homens querem para si, tanto individual quanto coletivamente.
Pode ser que pensar a política como “dom natural” coloque o indivíduo no arbítrio de se eximir dela. Ao fazer isso ele está abdicando do caráter decisivo da política: a prática enquanto fundamento.
O filósofo francês Jacques Rancière, em O desentendimento, defende que “a política só existe mediante a efetuação da igualdade de qualquer pessoa com qualquer pessoa”.
Isso significa que exercer ações em prol dos interesses humanos é o fazer política mais genuíno e imperioso.
A prática, portanto, é o exercício da humanidade enquanto direcionada a um fim ou a fins diversos. Isso porque o homem, dotado de logos (discurso/palavra), compreende o mundo e a si próprio.
Esta compreensão o eleva à dimensão do justo e do injusto, do bem e do mal. São concepções para além da sobrevivência pura e simples – selvagem.
Em suma, a Política que prejudica é a negação da humanidade enquanto portadora de interesses universais, como o bem estar, por exemplo.
O fazer política que degrada o homem, por alguma razão, é a sua própria negação enquanto atividade universalizante. Isto é, se este mal causado se universaliza a vida humana se torna inviável.
Diante disso, quando saímos de uma eleição eufóricos ou deprimidos é porque aquilo que julgamos bom e justo foi afirmado ou negado, respectivamente.
Em resumo, a manutenção e o enriquecimento da sociedade é a essência da política, por meio da constância de ações sociais, dos governantes, dos legisladores e da defesa do Estado de direito, no nosso caso contemporâneo.
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