O GEÓGRAFO | J. Vermeer |
Viver requer, também, instrumentalização. Foi por isso que os homens pré-históricos desenvolveram tecnologias a seu modo.
Investigar o mundo natural foi determinante para se descobrir as leis naturais que o regem, sendo um ingrediente para a promoção da mentalidade científica – como Russell nos mostra nos seus Ensaios céticos.
Para os antepassados longínquos, o mero contato empírico com a natureza proporcionou descobertas revolucionárias para suas populações. Com o advento da escrita e da possibilidade de se documentar os achados e as especulações, à experiência empírica foi adicionado o raciocínio lógico.
A experimentação e o desenvolvimento de métodos foram outros fatores não menos importantes para a construção científica.
E o conhecimento se alargou de maneira imensurável. Com efeito, escritos dos mais variados gêneros literários acerca da ciência foram produzidos. A divulgação científica acompanhou, de certo modo, a produção técnica.
Hoje, podemos encontrar textos da forma que nos mais agradar. Há leitura científica para todo gosto literário – de história, passando pela ficção, a biografias.
O acesso aos escritos científicos é fator basilar para a construção de uma mentalidade científica, hoje. Esta última é construída sobre o alicerce do conhecimento amplo, responsável por mostrar que não há desenvolvimento sem que haja compromisso científico profundo.
E toda técnica e campo de conhecimento requerem conhecimentos adjuvantes, que confluem para dar robustez aos pilares que sustentam o novo saber em formação.
O poder formacional dos escritos de ciência é indispensável para a lapidação do aspirante a cientista ou ao simples técnico.
Ler é o que constrói um saber qualificado e genuíno. Todos aqueles que fizeram ciência e que a documentaram para além dos escritos técnicos deixaram para a posteridade o dever da manutenção científica – aprofundando-a e disseminando-a. Resta-nos, ao menos, conhecê-los.
Não se escreve para prateleiras. Todo escrito, sobretudo de divulgação, tem como objetivo principal arrebatar novas almas, despertando vocações ou construindo suas bases.
Pode-se fazer ciência sem, contudo, possuir uma mentalidade científica. Isso porque esta última não é apenas a consciência de se fazer ciência, mas uma visão de mundo em que a cientificidade é parte intrínseca da objetividade em que vivemos e que a mudamos constantemente.
A debilidade literária, provavelmente, tem papel nesta falta.
A concepção científica nos permite enxergar que todo problema material enfrentado pela humanidade só tem solução à luz do método científico objetivo. E que a solução dos problemas da sociedade perpassa, além daquelas características particulares do homem, pelo saber científico.
O desenvolvimento de uma sociedade não passa ao largo da ciência. E, para esta estar sempre pronta a servir àquele, é preciso que os indivíduos responsáveis estejam munidos de visão de mundo e de responsabilidade científicas.
E o acesso metódico à ciência é, antes de tudo, literário.
É preciso, contudo, não imiscuir na ortodoxia, ou seja, ser um cientificista intolerante. Ciência sempre para aquilo que se cabe.
Findo – mesmo com todas as ressalvas à linha de pensamento dos autores do artigo – com uma citação retirada de A concepção científica do mundo – o Círculo de Viena: “a concepção científica do mundo serve à vida, e a vida a acolhe”.
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