A meta da ciência, por Popper

Karl R. Popper
A filosofia da ciência do século XX, tendo vários representantes de diversas vertentes filosóficas, enaltece a experiência como pré-requisito fundamental do fazer e pensar ciência. E não podemos conceber, hoje, as ciências naturais sem este pressuposto.

É claro que esta defesa da sensibilidade não é uma novidade na história do pensamento. Mas, a partir do século XX, recebeu destaque especial pelo maior desenvolvimento da lógica e da filosofia da linguagem, as quais supervalorizaram a dependência de um mundo de correspondência para as proposições.

Em A lógica da pesquisa científica, o filósofo da ciência austríaco Karl Popper já defendia que a experiência empírica deveria nortear a pesquisa científica. Assim, o modelo teórico da ciência deveria satisfazer três critérios básicos. Estar atrelado a um mundo possível, a uma experiência possível e ao nosso mundo de experiência.

Esses critérios evitariam a analiticidade, a metafísica e a inexequibilidade experimental. A analiticidade diz respeito ao julgamento apenas das relações lógicas entre pretensos “mundos possíveis”. A metafísica, a mundos ou estruturas inacessíveis à experiência sensível.

Com estes critérios, em parte, não é difícil percebermos que o mundo factual necessita ser explicado a partir de sistemas teóricos que o representem objetivamente, ou seja, se aproximem. E é isso que Popper propõe, mas que o conjunto de asserções que explique o fato evite ser construído tendo o próprio fato como origem.

É no quinto capítulo de Conhecimento objetivo que Popper admite que a insatisfação é o princípio da ciência. Não uma insatisfação pelas coisas do mundo, mas uma insatisfação explicativa.

Quando uma explicação (explicans) de um fato (explicandum) não é suficiente (ou insatisfatória) para explicá-lo, é sinal que a investigação sobre o dado deve ser melhor instaurada. 

A ciência é a capacidade de se aproximar do fato explicado da maneira mais fidedigna possível. Contudo, a explicação científica daquilo explicado deve se construir por meio independente. Isto é, deve ser elaborada independentemente do seu objeto-alvo, ou seja, do explicandum.

Sobre esta independência, Popper defende que o explicans deve ser testável independentemente do explicandum, ou seja, por outras vias que não aquelas a que tenta explicar.

Esta independência impede, justamente, a circularidade entre explicans e explicandum.

E toda explicação científica de um objeto é forte o bastante (satisfatória) na medida exata em que sobrevive aos testes.

Para Popper, então, a meta científica é estabelecer explicações satisfatórias para fenômenos naturais que carecem de elucidação. A independência e a resistência das explicações são a chancela de uma ciência bem definida.

No entanto, o filósofo não é defensor de nenhuma inflexibilidade intelectual ou científica. Reconhece o caráter não essencialista da ciência. Em outras palavras, para ele, esta última não busca a essência das coisas, mas tenta se aproximar do objeto da forma com que a teoria, o método e os instrumentos permitem.

Disso, implica-se que explicações científicas de um determinado fato podem, sem nenhum prejuízo, ser suplantadas por explicações mais adequadas, mais profundas e mais universais. E é isso que testemunhamos na história da ciência.

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